Às vezes é difícil acordar, seja de um sonho, um pesadelo ou mesmo na vida real. Acordar é como subir um degrau em falso numa escada: um susto acompanhado de um formigamento pelo corpo e o coração em disparada. Ás vezes acordar é um processo gradual, como neblina que se dispersa aos poucos com o avanço da manhã.
Pertinente para o contexto: Eu tenho “Hobbies de vovó”, desde que minha coordenação motora atingiu o mínimo de firmeza para utilizar uma faca ou tesoura minha mãe passou a me ensinar uma série de “afazeres” domésticos. Ela sempre diz que “se não souber fazer não saberei mandar”. Assim eu aprendia a cozinhar, lavar, passar, bordar, fazer tricô e costurar. Também sei trocar fechadura de porta, pintar parede e lixar janela, só não me perguntem o porque. Sou multiuso! Continuando...
Eu estava montando uma colcha de retalhos, separando e cortando pedaços de tecido colorido. Enquanto minhas mãos trabalhavam meu pensamento ia longe, muito longe. Ás vezes ai perto da Av. Paulista, da Rua Augusta ou no Ibirapuera... Ás vezes ai em lugar nenhum, apenas se prendia a um sorriso ou na sonoridade de uma voz conhecida.
E de repente eu acordei. Uma verdade avassaladora me engoliu e me “acordou”. Essa verdade veio de dentro de mim, de algum lugar vazio e obscuro, veio como uma onda e me engolfou e me arrastou para um oceano frio e desconhecido da minha alma.
Essa verdade é bem simples, pequena e frágil, como a pequena onda que vem antes da tsunami. Carregava tanta dor que de repente eu não sabia o que fazer ou o porque do tecido e da tesoura em minhas mãos. Não sentia a cadeira onde estava sentada, nem reconhecia os objetos da sala ao meu redor. Senti meu coração quebrar mais do que já estava quebrado. Partiu-se e espalhou-se como estilhaços de uma bomba em meu peito.
A verdade? Nunca mais haverá você. Assim como em fevereiro eu chorei agachada no Box do banheiro quando acordei para a verdade que eu tinha sido usada e descartada como um lenço de papel pelo cara que parecia ser o mais meigo e cristão do mundo... E assim foi quando eu acordei, no meio da Parada Gay, em meio a dois milhões de pessoas! Naquele dia eu acordei com a pessoa que eu acreditava gostar mais que tudo no mundo me olhando como se eu fosse uma lantejoula de uma fantasia, completamente indiferente.
Mas eu continuei, não? Você veio e foi embora, mas ainda virão outros e eles também irão embora. Outros começos e outros finais. Esse é o sentido, tem que ser... Acordar e continuar.
Renata
Nenhum comentário:
Postar um comentário